Com roteiros que passeiam facilmente entre comédia, drama e até terror, alguns filmes nacionais são um convite ao aprendizado e ao debate sobre a realidade brasileira. A atriz Lara Cardoso (@laracardoso_larica) é apaixonada pelo cinema nacional e sugere algumas preciosidades que podem ser perfeitas para assistir em família nas férias escolares, especialmente com adolescentes e abordar um pouco sobre os temas, o que pode acabar ajudando na educação dos jovens também. “Tenho uma filha de 13 anos e assistimos vários filmes nacionais juntas. Valem boas conversas sobre cultura nacional e a realidade da desigualdade também”, comenta Lara Cardoso.
O Auto da Compadecida – LivreA história baseada no clássico da literaura de Ariano Suassuna mostra as aventuras de Chicó (Selton Mello) e de seu amigo João Grilo (Matheus Nachtergaele), dois nordestinos sem eira nem beira, pelo mundão afora.Chicó se enamora da filha do homem mais rico da vila e João Grilo o ajuda a criar uma sequência de enganos para unir os dois. A grande maravilha do filme é o jogo de palavras dos dois, especialmente a imaginação de João Grilo em particular.
Com elementos genuínos da cultura brasileira, o filme diverte, ensina e abre espaço para muitas reflexões.
Abril Despedaçado – Classificação indicativa 12 anosEstrelado por Rodrigo Santoro, o filme é ambientado no sertão brasileiro,em que um jovem de vinte anos passa a ser estimulado pelo pai a vingar a morte de seu irmão mais velho, assassinado por uma família rival, causada pela rixa que as duas famílias mantêm por disputas de terras do Nordeste. No entanto, o protagonista sabe que que caso se vingue, será perseguido e terá pouco tempo de vida. Angustiado pela perspectiva da morte, Tonho passa então a questionar a lógica da violência e da tradição.
“Central do Brasil” – Classificação indicativa 12 anos
A atriz mais reverenciada do Brasil concorreu ao Oscar com esse filme, o que aumentou a curiosidade em torno do título. Mas ele é muito mais que isso.
O filme coloca na tela a vida de milhares de brasileiros que enfrentam uma vida sem oportunidades, muitas vezes entrando no crime para tentar conseguir dinheiro (como quando Dora, a personagem de Fernanda, tenta vender o menino).
A obra mostra não apenas a falta de oportunidades na cidade grande, como a realidade de quem busca migrar dentro do país em busca de mais qualidade de vida, o que quase nunca dá certo. Mas há momentos sublimes e até felizes, como quando Zeca encontra os irmãos ou quando ele e Dora percebem que são importantes um para o outro.
O final, por muitos considerado triste, é uma ode à realidade de muitos que precisam de afastar de quem amam para seguir sua vida e seu destino.
“Cidade de Deus” – Classificação Indicativa 16 anos
Pode-se dizer que existe o antes e depois de “Cidade de Deus” no cinema brasileiro. Meirelles imprimiu um estilo de cinema que é muito particular.
Assim como reconhecemos um filme quando é de Woody Allen ou David Lynch apenas pelo enquadramento ou estilo dos personagens, com o diretor brasileiro acontece o mesmo: a gente percebe pelos cortes, o “vai e vem” das cenas e a velocidade em que tudo aparece na tela. E é sublime assistir a isso.
O filme mostra a realidade do tráfico, como muitos entram ainda crianças, como ele se profissionalizou e mudou a realidade das comunidades ao longo dos anos, e como é a vida para os que tentam sair desse meio. Há cenas de muita violência, mas que não estão ali sem propósito. Muito pelo contrário. Elas compõem e dão sentido à narrativa.
Outro traço do diretor é ter um narrador para a história, que, nesse caso, é um morador do local que já presenciou ou ouviu histórias da comunidade.
“Carandiru” – Classificação Indicativa 16 anos
Se em alguns filmes a trama tem como objetivo imitar a realidade, aqui ela conta o que esteve nos noticiários de verdade, e desvenda o que não foi contado. Baseado no livro do Drauzio Varella, o filme fala sobre a rotina do presídio antes do massacre ocorrido em 1992.
A trama acontece em torno do médico interpretado por Luiz Carlos Vasconcelos. Ele atende os presidiários, ouve suas histórias e participa de alguns desdobramentos de suas vidas.
Mas “Carandiru” também mostra a tensão que acontecia dentro do local, o que acabou provocando a rebelião e, consequentemente, o massacre pela PM de São Paulo.
“Que horas ela volta?” – Classificação Indicativa 12 anos
Regina Casé está absolutamente fantástica nesse filme – inclusive com uma interpretação muito semelhante a que fez em ‘Amor de mãe’. Mas, aqui, ao contrário da Lourdes da novela, ela é uma mulher que não tem, inicialmente, o reconhecimento da filha, que pensa – e quer – fazer parte da família dos patrões.
Assim como “Central do Brasil”, é uma crítica social bastante forte, que mostra que o “ela é quase da família” na realidade não passa de uma falácia de quem tem melhor poder aquisitivo e que quer manter o poder de mandar e desmandar em cima do mais vulnerável.
Além disso, traz para a tela grande a realidade de milhares de brasileiros que precisam sair de sua terra natal para tentar a vida em grandes centros e, por vezes, deixar os filhos. Um drama que, por vezes, passeia pela comédia, mas que constrói, ao longo do filme, um mal estar crescente à medida que se percebe que todos conhecemos alguém que trata empregados domésticos dessa forma – alguns, inclusive, se reconhecem.